“A cada dia de minha vida, vivi esperando pelos fins de
semanas, feriados e as tão sonhadas férias. Digo a mim mesma que me sinto
cansada do trabalho e que quando não precisar mais estar nele serei alguém mais
realizada, calma e feliz.
Entretanto, não é a verdade que digo a mim mesma. Quando
chegam as tão desejadas férias deixo de lado um trabalho longo e contínuo que
me massacrava para me saturar de dezenas de outros pequenos e aleatórios
afazeres que me consomem tanto quanto o anterior.
Não importa o quão esgotada eu esteja, sempre haverá algo
que precisa ser feito, que precisa ser organizado. E minha cabeça se enche,
como sempre. Sempre em trabalho, sempre em ação. E quando, finalmente, tudo parece
estar no lugar e aproveitar o merecido descanso seria o certo a se fazer, é
quando vem a sensação de impotência.
Não posso ficar parada. Se permitir o tédio é sinônimo de
ser inútil. Existe tanta gente lá fora em movimento, trabalhando, eu também
preciso estar assim. Não quero ficar aqui olhando para as paredes quando posso
estar adiantando algo para o dia de amanhã que nem sei se chegará; não posso
ficar aqui deitada quando poderia estar investindo para ganhar mais e mais dinheiro
que nunca será o suficiente. Por isso, quero voltar logo ao trabalho; quero
voltar logo à rotina de aulas. Não posso ficar aqui. Não quero pensar. Se
pensar é existir. Não penso, logo, também não existo. E nesse mundo, é tão mais
fácil apenas seguir e nunca realmente existir. Não quero existir, pois não sou
o suficiente para isso.”
A Sociedade do
Cansaço é um livro de Byung-chul Han. Nele, Han afirma que, em nossa sociedade
contemporânea, todos os males da alma surgem devido aos extremos positivistas que
vivenciamos em toda e qualquer atividade.
Han diz que o excesso de positividade nos tornou uma
sociedade de desempenho, ou seja, devemos estar em mobilidade, criando a todo
momento. Nosso único objetivo é a produtividade, com a certeza de que quanto
mais conquistamos mais seremos felizes. Todavia, essa falsa felicidade nunca é
alcançada, já que a cada meta atingida uma nova é criada, tornando eterna a
busca pela bem-aventurança.
Texto por: Maianna Medeiros
Matrícula: 99188
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