A porta da verdade estava aberta
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só conseguia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.
Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia os seus fogos.
Era dividida em duas metades
diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era perfeitamente bela.
E era preciso optar. Cada um optou
conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia.
Carlos Drummond de Andrade
Ao ler o poema de Drummond sobre verdade é muito perceptível o grande dilema filosófico sobre a verdade.
Isso porque o senso comum confunde constantemente entre verdade e realidade. A verdade seria uma construção de enunciados que possuem significados e contextos, muito semelhante ao juízo que fazemos de algo. Pegue, por exemplo, um colar de pérolas se ele for de fato de pérolas e eu afirmar que ele é de pérolas, então é uma verdade e condiz com a realidade. Só que, e esse ele não for de pérolas e no entanto eu afirmar que ele é de pérolas, ele é uma verdade, pois eu o disse no contexto, contudo não condiz com a realidade de fato.
No caso do poema "A verdade dividida", trás exatamente esses nuances. A metáfora utilizada de porta é justamente o contexto. Se ela estiver meia aberta, pouco compreendida ou explanada, o entendimento será também meio. Assim, meias verdades exploradas por meios perfis, não são capazes de atingir a verdade em sua totalidade, já que vai depender de cada contexto o qual está inserida.
Quando na estrofe que ali diz:
"Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminosoonde a verdade esplendia os seus fogos.
Era dividida em duas metades
diferentes uma da outra."
Fica claro que a verdade dificilmente será aquilo que era suposto antes, as meias suposições e meias verdades, pois as metades, os escondidos são diferentes.
Por fim em:
"Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era perfeitamente bela.
E era preciso optar. Cada um optou
conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia."
Nenhuma das duas era perfeitamente bela.
E era preciso optar. Cada um optou
conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia."
É notável a escolha, ou como o eu lírico coloca, de optar. Isso revela a nossa capacidade de dar relevância a dados aspectos e, portanto, moldar a verdade aos nossos benefícios e juízos de valores. A miopia o qual o eu lírico destaca pode ser encarada como a habilidade em negar ou esquecer dos outros contextos e interpretações, acolhendo uma visão como verdade total para dado contexto.
Nome: Alice Ruschel Mochko
Matrícula: 99178
Nenhum comentário:
Postar um comentário