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quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Poema Em Linha Torta



Nunca conheci alguém que tivesse levado porrada.

Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
E eu, tantas vezes pulha,
Indesculpavelmente sujo, ridiculamente bufo
Toda essa gente que fala comigo
Nunca arriscou o ridículo
nunca sofreu enxovalho
Nem nunca manchou seu currículo
Nunca bancou o paspalho
Nem nunca frequentou prostíbulo
Nem nunca foi salafrário
E jamais cresceu-lhe um furúnculo (no culo)
Nunca foram senão príncipes - todos eles príncipes
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confesse não um pecado, mas sua infâmia;
Que assuma sua covardia nessa rapsódia vadia.
Que me confesse que já foi vil, Que assuma que desejou o mal
E foi mentecapto, ilícito, arbitrário, bactéria ou corrupto
Não, são todos o Ideal, se os ouço ou me falam, são todos o Ideal
estou farto de semideuses!
Onde é que há gente de verdade no mundo?
Mas que bom que somos todos bons
Todos santos
competentes, Imaculados, infalíveis, invioláveis... e inocentes.

(Alexandre Nero)

A música acima faz parte da trilha sonora de uma peça de teatro, intitulada de “O Grande Sucesso”, a comédia musical tratava de problemas envolvendo o sucesso e o fracasso e estreou em 12 de agosto de 2016 permanecendo pelo país até o dia 10 de junho de 2017.
 A canção foi baseada em um poema de Fernando Pessoa, escrito como o seu heterônimo Álvaro de Campos. Em sua letra, é possível perceber o desgosto do eu lírico com a vida que leva, ao se comparar o tempo todo com outras pessoas.

Na primeira estrofe onde diz: “Nunca conheci alguém que tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.” Nota-se como ele percebe que as pessoas parecem ser perfeitas, estão sempre em busca da vitória, sempre obtendo sucesso em tudo que produzem e sendo felizes com isso.

Em seguida ele critica a si próprio usando dos adjetivos mais negativos possíveis: “E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil, E eu, tantas vezes pulha, Indesculpavelmente sujo, ridiculamente bufo.” Essa parte da letra me remete a sociedade disciplinar marcada no século XX, onde ele se sente um corpo estranho ao se comparar com a perfeição dos que o cercam. Posteriormente surgiria a sociedade do desempenho que traria uma falsa liberdade e que de certa forma continuaria cobrando da sociedade a perfeição.

Ao longo da letra percebe-se que ele não se encaixava nas regras daquela sociedade e ironiza o tempo todo, como as pessoas se vangloriam de seus atos chamando-os de semideuses, príncipes e como todos são o falso “ideal”, para o poeta a vida é feita de imperfeições e altos e baixos, e que de fato é.

Esse positivismo segue adiante cobrando que sempre façamos mais, pois somos capazes. Levando a uma sociedade multitarefa chamada sociedade do cansaço.



Taynara Pena
Matrícula: 99205

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