Ana Luisa Horstt Prado - 99196
O valor do "objetivismo/objetividade" da ao jornalismo a legitimidade que ele precisa, diferenciando-o de outros discursos e práticas sociais. Para o público, o registro da verdade de acordo com jornalistas depende de sua capacidade de ter contato com a realidade sem os problemas que a falta de conhecimento apropriado imporiam à ampla maioria dos indivíduos.
No mundo moderno, o ideal da objetividade corresponde, grosso modo, à valorização do acesso a uma verdade que estaria contida na realidade exterior e que seria independente dos processos cognitivos. No jornalismo, ele impõe, em primeiro lugar, um compromisso com a busca por esta verdade, que é de cada profissional e que é reforçado pelo controle mútuo e pelos códigos da deontologia jornalística. Também para o público, o bom jornalismo é aquele que sustenta esse compromisso, fornecendo informações confiáveis. Mas os obstáculos à objetividade não residem apenas na tentação - sempre presente - do falseamento deliberado dos fatos em benefício próprio. Sua outra face, mais insidiosa, são as condições concretas de construção da notícia, nas quais os relatos são indissociáveis da posição social dos jornalistas.
É porque o envolvimento parcial com a realidade é inevitável que as técnicas que tornariam a objetividade possível correspondem a estratégias ou marcas de distanciamento. A objetividade envolve a valorização de práticas e habilidades que permitiriam que o acesso à realidade não fosse maculado pelos intermediários que o tornam possível. O reconhecimento de que os profissionais têm competência distinta para acessar - e esclarecer - a realidade exterior sobrepõe-se à desvalorização da singularidade e da posição social específica desses mesmos indivíduos. A valorização do discurso científico, sobretudo nas formas que assume a partir do século XIX, é fortemente marcada pela divisão entre iniciados e leigos, sendo os primeiros aqueles que adquirem domínio sobre os procedimentos, normas e saberes compartilhados que garantiriam a produção de discursos verdadeiros. Mas a neutralidade desses sujeitos é uma exigência para que seu discurso seja fiel à realidade, e só a ela. Em outras palavras, a objetividade exige a neutralização ou suspensão do sujeito para que a verdade se apresente.
No jornalismo, a conexão entre verdade e suspensão da perspectiva social do sujeito assume formas específicas. A partir das décadas iniciais do século XX, o preceito da objetividade passaria a ser central à cultura jornalística, constituindo a identidade dos jornalistas como profissionais e as formas de normatização e controle de suas práticas. Em geral, a fixação do ideal da objetividade tal como hoje entendido é creditada ao desenvolvimento da imprensa nos Estados Unidos - sobretudo à emergência do jornalismo comercial, sustentado por publicidade, e à introdução de inovações como o telégrafo e a fotografia, que ampliavam a possibilidade do fornecimento de "fatos" ao público e o colocavam diante de informações tidas como fragmentos incontestáveis do mundo real. As mudanças tecnológicas contribuíram para a fixação de um conjunto de normas com força moral, que conferia identidade a esse grupo ocupacional. Inovações técnicas, que proporcionam novas possibilidades de exercício profissional, e parâmetros normativos, que privilegiam algumas destas possibilidades, se realimentam. Como desdobramento deste processo, o ideal da objetividade teria firmado uma relação mais estreita com o jornalismo estadunidense do que com as práticas jornalísticas em outros lugares do mundo.
O Jornal de Filosofia da Comunicação é um espaço de produção de conhecimento crítico e filosófico de estudantes do Curso de Comunicação da Universidade Federal de Viçosa. As postagens - notícias, colunas, opiniões e resenhas - são produções inspiradas nas aulas de Filosofia da Comunicação (EDU 124. Os textos e imagens são de responsabilidade dos autores estudantes e não são compartilhadas pela universidade ou pelo corpo docente. Coordenador : Prof. Dr. Arthur Meucci (DPE/UFV)
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