Uma das mudanças morais mais significativas de nossa sociedade nos últimos séculos foi a perda de espaço cultural da noção de honra, substituída por outras noções como a de direitos e de dignidade. Essa mudança se torna particularmente sensível quando contrastamos nossa sociedade ocidental com culturas nas quais a honra ainda tem um papel central: como nas culturas árabes muçulmanas. Em geral, esse contraste resulta em nosso favor: a honra é invocada quando pais matam filhas que feriram a “honra” da família, quando homens participam de duelos por motivos fúteis, quando se justifica uma divisão rígida entre homens e mulheres, quando grupos exclusivistas hostilizam e afastam pessoas vistas como indignas.O conceito de honra e seus ‘similares’ teriam como uma de suas funções colocar em operação a ligação
entre passado e presente de uma sociedade.
A noção de honra não foi objeto específico de reflexão para Weber. É preciso realinhar idéias que se encontram dispersas ao longo de vários de seus textos, pois se o autor nos oferece indícios, a responsabilidade de elaborar conclusões é do leitor. A honra não era a sua temática central nos trabalhos sobre sociedades modernas. Mas, ao tratar da vocação política, Weber abre-nos a possibilidade de pensar uma honra moderna, ultrapassando os limites das sociedades estamentais. Assim, a noção de honra, em Weber, pode ser articulada em dois planos de análise: ancora-se em realidades históricas, mas, ao mesmo tempo, estrutura-se como um conceito-tipo. Se a "honra" não pode ser compreendida com a pretensão de universalidade de seus conceitos sociológicos fundamentais, tampouco deve ser restringida a uma única realidade histórica. Honra seria, utilizando a classificação de Gunther Roth (Roth e Schluchter 1979), um conceito sociohistórico, uma generalização de abrangência empírica relativa.
Em "Política como Vocação", Weber menciona vários tipos de políticos profissionais em suas relações com a honra. Ao analisar a organização do domínio permanente, fala em "honra do servidor público", referindo-se ao princípio de integridade sem o qual "estaríamos ameaçados por uma corrupção assustadora e não escaparíamos ao domínio dos filisteus" (Weber 1998:69). Já na apresentação dos principais tipos de políticos profissionais, refere-se ao "jornalista honrado": aquele que possui senso de responsabilidade, que tem consciência dos efeitos que as realizações jornalísticas podem provocar (Weber 1998:80).
ICARO RAFAEL MATTA PEREIRA
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