O livro Capitães de Areia, de Jorge Amado, conta a história
de meninos órfãos que vivem nas ruas da Bahia, suas histórias, seus roubos,
suas habilidades que nunca seriam reconhecidas por serem pobres e não terem
oportunidades. Um desses meninos sabe desenhar, tem um talento que ninguém
entende. Nunca estudou arte, nunca foi à escola, mas desenha pelas ruas da Bahia
as pessoas que vão passando da melhor forma que pode. Mas sofre. Sofre muito
por querer desenhar beleza, alegria, doqueiros felizes, crianças brincando.
Sofre porque vê a Bahia linda, repleta de doqueiros, de samba, de música, mas só
vê gente pobre e triste. Não consegue desenhar a Bahia que sonha porque sabe
que seu povo sofre com a varíola, com a pobreza, com o racismo. Não consegue
colocar homens felizes trabalhando em seus desenhos porque esses homens morrem
nas greves buscando seus direitos básicos e lutam por uma Bahia melhor, e fazem
isso com gosto, mas sofrem. Sofrem os pobres, os pretos, os doqueiros, sofrem
as mulheres e as crianças, e sofre, sofre muito o nosso artista. Por saber que
pode ver a Bahia inteira em alegrias, mas seus homens permanecem tristes e aflitos,
explorados pelo trabalho e pelas condições que nasceram. Sua realidade é triste,
e também sua arte.
Toda arte consiste em uma representação da natureza. Segundo
Aristóteles, a arte seria algo superior à realidade, ou seja, não teria limites
para sua forma de representação. Enquanto isso, Platão defendia a ideia de que
a arte deveria ser a representação mais exata e perfeita da natureza, tudo
menos que isso não deveria ser considerado arte. Porém, vendo como exemplo o
personagem de Capitães de Areia, percebemos como a realidade é subjetiva. Pode-se
admirar a Bahia, suas músicas, sua arte, e enxergar somente a tristeza dos
homens nas docas. Então, sendo a realidade subjetiva, e a arte uma
representação da realidade, a arte também é subjetiva.
Alanna Fontes
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