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domingo, 1 de dezembro de 2019

A subjetividade artística em Capitães de Areia


O livro Capitães de Areia, de Jorge Amado, conta a história de meninos órfãos que vivem nas ruas da Bahia, suas histórias, seus roubos, suas habilidades que nunca seriam reconhecidas por serem pobres e não terem oportunidades. Um desses meninos sabe desenhar, tem um talento que ninguém entende. Nunca estudou arte, nunca foi à escola, mas desenha pelas ruas da Bahia as pessoas que vão passando da melhor forma que pode. Mas sofre. Sofre muito por querer desenhar beleza, alegria, doqueiros felizes, crianças brincando. Sofre porque vê a Bahia linda, repleta de doqueiros, de samba, de música, mas só vê gente pobre e triste. Não consegue desenhar a Bahia que sonha porque sabe que seu povo sofre com a varíola, com a pobreza, com o racismo. Não consegue colocar homens felizes trabalhando em seus desenhos porque esses homens morrem nas greves buscando seus direitos básicos e lutam por uma Bahia melhor, e fazem isso com gosto, mas sofrem. Sofrem os pobres, os pretos, os doqueiros, sofrem as mulheres e as crianças, e sofre, sofre muito o nosso artista. Por saber que pode ver a Bahia inteira em alegrias, mas seus homens permanecem tristes e aflitos, explorados pelo trabalho e pelas condições que nasceram. Sua realidade é triste, e também sua arte.

Toda arte consiste em uma representação da natureza. Segundo Aristóteles, a arte seria algo superior à realidade, ou seja, não teria limites para sua forma de representação. Enquanto isso, Platão defendia a ideia de que a arte deveria ser a representação mais exata e perfeita da natureza, tudo menos que isso não deveria ser considerado arte. Porém, vendo como exemplo o personagem de Capitães de Areia, percebemos como a realidade é subjetiva. Pode-se admirar a Bahia, suas músicas, sua arte, e enxergar somente a tristeza dos homens nas docas. Então, sendo a realidade subjetiva, e a arte uma representação da realidade, a arte também é subjetiva.

Alanna Fontes
99184

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