O medo do juízo final e
a verdadeira ética cristã
Um dos pontos sobre a ética
verdadeira, que se constrói como ações de valores elevados, vindos de um
espírito honrado, justo e sincero é a necessidade da liberdade para sua
manifestação. Um ato só será ético se não for obrigatório, e o homem necessita
da sua liberdade intrinsecamente. Caso não tenha essa liberdade, ao invés de
agir com justiça por medo daquele que se impõe, nascerá no seu coração a
barbárie e o espírito autodestrutivo, que em certo momento lutará pela
anarquia. Quando pensamos na ética cristã, temos diante de nós uma confusão que
precisa ser pensada e respondida, a saber, a ordem de Cristo para teme-Lo e
ama-Lo. Levantam-se então dois pontos: a ética cristã, como apontada por
Cristo, vem de um coração sincero e de forma voluntária, enquanto o mesmo
Cristo não exclue o temor ao Seu Nome.
O que a Bíblia chama
de temor
O temor para a Biblia, e o medo
do juízo certamente não são conceitos
tão óbvios quanto pensamos. Nosso temor não nasce do medo da punição:
nasce do profundo entendimento do caráter de Deus e mesmo os crentes que não
temem mais a punição e possuem a certeza da vida eterna ao lado de seu amado
Criador, devem exercê-lo o mais profundamente possível. Esse entendimento,
porém, faz em nós nascer o medo da punição, não apenas por observar atributos
como poder e soberania, mas também quando nos damos conta de sua bondade e
beleza. Pois se Deus é bom e não nos aproximamos de Sua bondade em nossas
ações, somos certamente dignos de punição e sua grande mão pesa sobre nós. E é certamente impossível que os homens não
temam em nível nenhum, por mais que cheguem próximos dessa condição, pois está
escrito “Deus colocou a eternidade no coração dos homens.” (Eclesiastes 3).
Posto isso, o medo da punição, em certo nível, vem do entendimento ético e busca, no coração dos homens, produzir ética.
O final do sermão do monte nos
apresenta uma visão interessante da visão de Cristo sobre a punição. Ele afirma
“Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos céus, mas
apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão
naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não profetizamos nós em Teu Nome? Em teu nome não
expulsamos demônios e não realizamos milagres?’ Então eu lhes direi claramente:
Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês que praticam o mal!” Eis uma fala interessante, pois Cristo lida com
o medo de punição daqueles líderes religiosos que constantemente o interpelavam
e com as ações inclusive miraculosas dos falsos profetas que seu povo
conheceria, e que eram desprovidos de entendimento e amor verdadeiro pelo Reino
de Deus. Ele não exclue a punição, mas a estabelece com um objetivo maior: é no
entendimento do caráter divino que tememos a punição e se nos agarramos a
Cristo como instrumento para nossa salvação, somos capazes de agir agora em
boas ações por gratidão.
E a ética com isso?
Se para a Teoria da ação é
necessário que para um agir ético não exista medo da punição, mas uma liberdade
que revelará apenas o que é sincero, a religião verdadeira para Cristo exige
uma sinceridade que perpassa pelo medo de punição mas que é enraizado no amor.
Pois é somente pela ação do Espírito de Deus é que somos capazes dos mais
nobres sentimentos e virtudes. A isso damos o nome, na teologia reformada, de depravação total. O conceito se baseia na ideia de que todo o
coração humano é incapaz de qualquer ação boa, justa e verdadeira, mas capaz de
toda e qualquer perversidade¹, uma vez que “Ele vos deu vida, enquanto vocês
estavam mortos em pecados e delitos e seguiam o curso deste mundo e faziam a
vontade daquele que governa os poderes espirituais do espaço, o espírito que agora controla os que
desobedecem a Deus.” (Efesios 2: 1,2) Em outras palavras, os pensamentos e
ações que não contam com a graça de Cristo são governados pelas próprias forças
do inferno.
Entretanto, aquilo que chamamos
de coração poderá agir com as mais nobres intenções quando for liberto. A ética
portanto esbarra em um novo conceito de liberdade, para a fé cristã: aquela
liberdade que é dada e não intrínseca, imutável e não efêmera. A verdadeira ética cristã portanto, é livre,
mas submissa; voluntária e persuadida; dada de graça, mas visando a recompensa
celeste. Exatamente como Cristo é ao mesmo tempo homem e Deus, a ética cristã,
para ser verdadeiramente cristã, é construída necessitando do poder de Cristo
para a gloria de Cristo.
É isso.
Kedma Julia 99174
Kedma Julia 99174
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