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quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Black Mirror: Queda Livre l Uma análise sobre o espelho chamado sociedade



A necessidade de ser reconhecido e amado sempre foi parte de uma estrutura mecânica seguida pelos indivíduos, isso não é novidade. O ser humano já cresce com a ideia de que para estabelecer relações afetivas com um grupo ou pessoa, ele(a) deve-se adequar à vivência desse(a). A questão é que isso se tornou tão superficial que a essência das pessoas foram alteradas, e muitas delas acabaram por deixar sua autenticidade de lado e abriram espaço para serem apenas cópias, e através disso, aceitas.

Ser contra a Filosofia Moderna se torna questão difícil quando exercido seu caráter, isso porque, é totalmente contraditório se opor ao ato, de apenas realizar algo para ser aceito por alguém, quando na prática, esse ofício é exercido sem ao menos se perceber. Hegel mesmo, foi um filósofo a se opor a esse sistema, ele acreditava que não era bem assim que deveria funcionar, que cada pessoa tem seus costumes e se colocar à mercê da sociedade não é bem a maneira perfeita de provar fazer parte dela.

Desde crianças fomos submetidos a abrir mão de nossos costumes para alcançar a simpatia de alguém, fomos manipulados, e ainda somos, por acreditar que a aceitação provém da máscara que envolve o nosso rosto quando recusamos a ser quem somos.

O primeiro episódio da terceira temporada de Black Mirror, chamado “Queda Livre”, retrata bem essa realidade. Lacie, a protagonista, vive em um mundo onde as pessoas são avaliadas pelas suas ações, e também, pelo que postam nas redes sociais. Durante a trama, a personagem se envolve na compra de uma residência luxuosa, mas para isso, precisaria obter uma pontuação bem mais alta do que possuía no momento. Para conseguir essa boa avaliação, dependia diretamente de outras pessoas que curtia e se interessava pelo que a mesma fazia em seu dia a dia.

Lacie então se vê em uma posição onde precisava copiar o que as pessoas mais influentes realizavam. Por isso, resolve tirar fotos fofas e criativas para ganhar mais pontos, e começa a tratar todos gentilmente para que vejam o quão sofisticada e simpática ela poderia ser. Além disso, frequenta lugares chiques e se adequa a eles, para que sua pontuação suba por meio da reputação de pessoas mais bem avaliadas.



Com sua reputação subindo aceleradamente, Lacie recebe a ligação de uma amiga antiga, convidando-a para ser dama de honra em seu casamento. Obviamente, a personagem aceita o convite, já que o ambiente estaria repleto de pessoas da alta classe que poderiam lhe dar uma pontuação alta pelo discurso aos noivos.

Porém, como esse é um sistema falho e ignorante, a protagonista em um momento se encontra aflita quando por um deslize foge dos parâmetros que a sociedade desejava. Lacie é humilhada por não se encaixar no que as pessoas consideravam importante, e todos ao seu redor a ignoram, a bloqueiam, como se ela não mais existisse, e nisso, ela perde quase toda a pontuação que possuía, não conseguindo então, comparecer ao casamento da sua amiga. Em um improviso, Lacie consegue uma carona com uma senhora para chegar até a cidade onde aconteceria o evento. A senhora, durante o trajeto, a conta o quanto em sua mocidade se importava com o sistema de pontuações e o quanto isso deixou de ser importante quando percebeu que muitas outras coisas eram mais essenciais, como viver sua própria vida. Mas, alienada pelo pacto social, Lacie apenas a ignora. 



Mudando a rota, a senhora a deixa em um ponto do caminho, então, após um tempo, ela consegue outra carona. Nesse último trajeto, Lacie recebe a ligação de sua amiga pedindo para que ela não fosse mais, já que sua pontuação era baixa e ela poderia ser mal vista pelos convidados. Isso foi o suficiente para fazer a mulher querer desistir de tudo, toda essa pressão mexeu com a cabeça dela e isso é bem visível na trama.

No final da narrativa, a personagem não possui a nota necessária para fazer o que desejava, afinal, as pessoas a descartaram por não aceitarem suas práticas, já que eram diferentes da maioria. Então, ela decide ser ela mesma, e vai até o casamento, onde dá voz a um discurso de ódio contra sua “amiga”, que na verdade não se importava nada com ela.

A lição, no entanto, foi que parâmetros podem machucar, e ser aceito não vale toda essa dor. Todavia, é meramente impossível sair dessa bolha, pois é uma metodologia imposta, e desvirtua-la seria como quebrar as normas que regem uma sociedade que se importa com a aceitação. Por isso, é preciso querer ser único, ainda que todos digam que isso foge do complexo formado. E ainda sim, esse "querer", muitas vezes não basta.

Isabelle de Oliveira
Matrícula: 99200



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