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quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Gentileza e o reconhecimento





Era um dia cansativo.
Me lembro, porque as preocupações e problemas martelavam em minha cabeça. Mas era almoço e de certa forma, eu havia ficado feliz com o prato do dia.
Após pegar meu prato e me sentar na mesa do restaurante universitário, observei que havia um garoto e uma garota. Um de frente para o outro. Não sabia se eram namorados ou algo do tipo, mas pareciam muito confortáveis um com o outro. O mais interessante era o olhar que o garoto direcionava a ela. Não era qualquer olhar. Era um olhar cauteloso, afável, singelo. Um olhar observador. Ele parecia analisar ela, captando todos os detalhes como fosse partir em breve.
A menina, estava entretida mastigando a comida e vendo o movimento do restaurante. Passava os olhos por todo o local, parecia até que estava procurando alguém na multidão. No entanto, não percebera que o garoto a fitava e no momento que notara, o que veio a seguir foi ao mesmo tempo inédito e previsível: o encontro de olhares.
O mais incrível foi o resultado disso. A menina que antes estava desatenta, agora gargalhou da ação do garoto. E ele, como era o único rosto que era visível do ângulo que estava, abriu um sorriso sincero. Ambos estavam envergonhados.
Essa ação, esse momento que veio até meus olhos, me trouxe uma sensação. Uma sensação de leveza, de paz. Ou como muitos dizem por aí: coração quentinho.
Isso me fez lembrar a Teoria do Reconhecimento dada na aula de filosofia da comunicação.
O conceito de reconhecimento, originou-se nas obras de Hegel e é discutido a noção de se obter autorreconhecimento e de reconhecimento pelo outro (intersubjetividade). Essa teoria teve como expoentes Charles Taylor e Axel Honneth. O primeiro, discorre que o reconhecimento teria caráter intersubjetivo, isto é, por meio de reconhecimento mútuo. Em seu livro, “A Ética da Autenticidade”, Taylor analisa analisar o que ele entende como os “três mal-estares da modernidade”. Conforme o autor, as pessoas em geral concordam que a modernidade é responsável pelo desenvolvimento tecnológico do mundo, todavia esse “progresso civilizacional” é acompanhado de um sentimento de perda ou declínio moral (TAYLOR, 2011, p.11). Essas sensações têm sua origem em três perdas: a perda de significado, a perda das finalidades e a perda da liberdade.
Já para Honnet, em sua obra “Luta por Reconhecimento”, o reconhecimento é visto como meio para conceder identidade ao indivíduo, o que dá sentido de liberdade individual e autonomia. Ainda consoante Honnet, a identidade do indivíduo é constituída pelo reconhecimento intersubjetivo em três esferas: na esfera do amor, nas relações pessoais com vínculo afetivo; na esfera jurídica-moral, nas relações de direito e autorrespeito; e na esfera da estima social, nas relações de solidariedade.
Em síntese, é compreensível que cada um desses filósofos diz em uníssono a nós: “O homem é um ser social com consciência histórico-cultural e com ações de natureza histórico-emocionais.”
E essa máxima é compreensível, uma vez que o homem não existe por si mesmo, mas sim em sociedade. Ou ainda parafraseando John Donne, nenhum homem é uma ilha, cada ser humano é parte de um continente, uma parte de um todo. Sendo que suas ações e seus estilos evidentemente influenciados pela moral são de certa forma convencionais e impostos ao longo do tempo e, portanto, vestígios no campo histórico e cultural.
Assim, voltando ao exemplo de afeto exposto no início, momentos depois do ocorrido, fiquei pensativa. Pensando no efeito da cena, na sensação que de fato invadira o meu consciente. De certa forma, me senti confortável e contente que ainda existem gestos simples como esse. Que mesmo diante o caos mundano – violência, raiva e superficialidade -, há amor e gentileza. Aliás, o ser humano também pode amar. E novamente, ninguém é algo atomizado e solitário, mas sim um conjunto.
Ao perder o seu reconhecer dentro das esferas do amor, direito e solidariedade, o indivíduo decaí no narcisismo e no hedonismo, estimulando conflitos sociais e interpessoais. No mais, exemplos como esse citado trazem esperança em tempos de individualismo, demonstra um despontar do que Honnet espera como evolução moral ao motivar as ações coletivas e transformações sociais. O se preocupar, o reconhecer no outro, o ser gentil causa a identificação psicossocial que nos une dentro do tecido social, há um reconhecimento de pertencimento.

Nome:Alice Ruschel Mochko
Matrícula: 99178

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