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quinta-feira, 15 de agosto de 2019

La Casa de Papel: Ato imoral ou resistência?

"O que é roubar um banco comparado a fundar um banco?" - BRECHT, Bertold. 


   

Se infiltrar na Casa da Moeda da Espanha, imprimir 2.4 bilhões de euros, um assalto que desafia as autoridades, ato imoral ou resistência?

A série espanhola "La casa de Papel", adicionada ao catálogo da Netflix em 2017, atingiu uma escala significativa de audiência e repercussão em algumas partes do mundo, trazendo várias questões em torno da ética e moral a serem debatidas. O seriado traz como uma das figuras principais o "Professor", que recruta oito ladrões a fim de realizar o ambicioso plano de infiltrar na Casa da Moeda da Espanha para imprimir 2.4 bilhões de Euros. Em torno desse cenário surge a figura de Salvador Dalí, em forma de máscara, que eles utilizam como representação do exuberante e também para proteger suas identidades. Além da analogia à arte, a série também traz consigo algumas referências a filmes do gênero polícial/assalto, como a figura da personagem Tóquio que remete uma semelhança a Mia Wallace, personagem do famoso filme "Pulp Fiction" dirigido por Quentin Tarantino, causando com isso uma questão moral de padronização dentro do entreterimento. 

La casa de Papel descontrói o estereótipo de "Bem vs Mal", rompendo o maniqueísmo e o modo de como os indivíduos são representados, de certo modo nos traz uma empatia com o vilão da história, o que vale pensar na inversão de valores que a série nos trouxe. A narrativa altera a lógica que se aprende desde criança, o público percebe a problematização da obra a partir do momento em que a polícia e o sistema se tornam vilões, enquanto os assaltantes são protagonistas e vistos como hérois e mocinhos. Com essa inversão de valores não se define então o que é certo e o que é errado, moral ou imoral, no contexto da obra as pessoas não conhecem seus princípios e valores em si mesmos, com se tudo tivesse ao contrário.

Tudo se explica através da maneira como a produção mostra os personagens, das circunstâncias e da lógica em que a história é contada. Na série, a ética foi modificada pelos meios de comunicação quando o professor soltou a ligação telefônica com os investigadores, na qual eles recusaram uma negociação a fim de libertar reféns. Com isso, houve uma polarização de lado escolhido pelo público, a maioria então passou a desejar o sucesso do roubo, esquencendo, em partes, a consciência moral do erro que é furtar, influênciando o conceito e a ética da população espanhola. Em vista disso, cabe ao espectador tirar suas conclusões e limitar seu envolvimento com a trama.

Em torno da estratégia e cenário socioeconômico e político da Espanha, os assaltantes consquistaram o apoio da população. É uma quebra de "sistema", a série trouxe inspiração de resistência e revolução, não se trata apenas de um plano fantástico, é mais que isso, é um desafio ao poder, é um ato de resistência, um desafio a ética quando vemos que o sistema não é tão eticamente correto como deveria ser, é uma construção dramatúrgica que é aperfeiçoada quando gera desconforto em quem acompanha o desenrolar da história e se percebe torcendo para o lado "errado". Como já dizia Bella Ciao: "Oh, membro da resistência, leve-me embora/ Querida, adeus! Querida, adeus! Querida, adeus!".


Laísa Rodrigues de Menezes - 99197

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